No meu trabalho com líderes executivos, com frequência deparo-me com situações onde o medo de não saber é paralisante e muito danoso para esses profissionais. No mundo das empresas, criou-se uma cultura onde os líderes são aqueles que devem saber tudo, estar sempre certos, tomar as decisões perfeitas.

E a competitividade é tanta que gera um efeito contrário ao que seria de se esperar. Não é raro o sujeito recorrer a estratégias danosas para esconder a sua extrema insegurança com determinado assunto.

No intuito de ter que parecer o mais sabido, muitos criam uma máscara de excelência que engana até a si próprios. Matam (literalmente) a curiosidade em favor de parecer o mais sabido da turma.


Ser curioso ou ser o sabe-tudo?

Aprender é a vocação natural das nossas mentes. Nós não temos como não aprender. Salvo diante de algum distúrbio neuro-fisiológico, todos nós somos programados para falar, andar, comer, expressar, relacionar e aprender. Basta estar vivo no mundo, que o aprendizado acontece. Mas para ir além da página 2, é preciso estar atento a algumas barreiras.

Na escola somos adestrados a responder o certo. Somos premiados por reproduzir respostas prontas, por repetir as mesmas palavras dos livros, e não para tentar, investigar e desafiar o pensamento. Logo, na dúvida, é melhor ficar quieto do que correr o risco de “pagar o mico” e falar uma bobagem.

Conforme avançamos na nossa educação vamos criando barreiras, na sua maioria saudáveis e de auto-preservação. Mas algumas vão longe demais, ao ponto de nos limitar no caminho de aprendizado.

Acontece que o futuro nunca foi tão incerto, e o mundo tão volátil e complexo. As respostas que temos não serão suficientes para o futuro. Logo, vale mais despertar a curiosidade do que adestrar para responder o “certo”.


Aprender exige coragem

O primeiro passo para a curiosidade e para a aprendizagem é assumir que não se sabe. E num mundo onde vale mais quem “sabe mais”, o risco do não-saber é enorme. Isso pode ser paralisante e gerar um comportamento de evitação. Portanto, a coragem de assumir para si mesmo que não sabe é o primeiro passo para o aprendizado. Mas não é suficiente.

Mas para ir muito além da página dois é preciso enfrentar uma segunda barreira… a sensação de estar perdido.

Sim, em qualquer aprendizado, seja lendo um livro, seja fazendo uma viagem, seja aprendendo um novo idioma, passamos a maior parte do tempo nos sentindo perdidos. O sentimento com relação ao inexplorado é mais ou menos como andar pela primeira vez num deserto sem a ajuda de mapa ou GPS.

Isto porque diante de algo novo, o nosso cérebro dispara impulsos para todos os lados tentando encontrar algo na nossa experiência pregressa que se assemelha ao que está sendo visto agora.

Por isso, aprender pode ser doloroso e cansativo, afinal você está literalmente reconfigurando as conexões neurais. E é aí que muitas pessoas desistem: bem na página dois.

A verdadeira aprendizagem só ocorre depois de vencida essa barreira. Pense bem! Se você simplesmente copiar a resposta de um problema de matemática do quadro do professor, não há aprendizado. Depois de um ou dois dias, você não será capaz de responder à questão.

É apenas quando você se coloca diante do problema e se permite sentir-se perdido, que a sua mente estará livre para empenhar-se, para testar todos os caminhos conhecidos e alguns novos caminhos. E quando ela encontra uma solução, novas conexões foram formadas e você nunca mais esquece.

Estar perdido dá medo, frio na barriga, faz a gente querer desistir e correr de volta para casa. Mas depois de vencidas as barreiras do medo e da sensação de estar perdido, há um mundo inteiro esperando para ser descoberto por você!

Vamos lá?!